SANÇÕES PUNEM OS DITADORES OU O POVO? – MALUNDO KUDIQUEBA PACA

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O Ocidente, em nome da justiça e da democracia, tem historicamente recorrido a sanções como forma de pressionar regimes ditatoriais a mudar. No entanto, quando analisamos casos como o Zimbabué e Cuba, percebemos uma dura realidade: as sanções nunca foram contra Robert Mugabe ou Fidel Castro, mas sim contra os seus povos. Ambos os líderes morreram, mas o fardo das sanções persiste, recaindo sobre as populações, que continuam a sofrer por crimes que não cometeram.

Ajustiça não pode ser confundida com vingança. Quando as sanções se perpetuam além da vida dos líderes que as motivaram, elas deixam de ser um meio legítimo de pressão política e tornam-se numa punição colectiva. A responsabilidade de um só homem não deve condenar milhões ao sofrimento, e o mundo, em particular o continente africano, tem o dever moral de agir. Chegou a hora de libertar o Zimbabué e Cuba do peso destas sanções injustas e de dar uma nova oportunidade aos seus povos para construir o futuro que merecem.

Punição colectiva: Um crime de Estado

É impossível não reconhecer a imoralidade das sanções que ultrapassam a vida dos ditadores que as provocaram. Punir uma nação inteira pelos erros de um líder é uma forma de opressão. É um crime contra a humanidade. Robert Mugabe e Fidel Castro cometeram erros gravíssimos, mas já pagaram o preço com a sua própria morte. O que justifica a continuação de sanções que perpetuam a miséria de milhões?

O Ocidente, ao manter essas sanções, fecha os olhos ao sofrimento desnecessário de povos inteiros. E a passividade das nações africanas e latino-americanas só reforça essa injustiça. Sanções devem ser ferramentas de transformação, não instrumentos de punição perpétua. É hora de o mundo acordar para esta realidade e exigir o fim de um ciclo de sofrimento que já não tem qualquer razão de existir.

“Se o Ocidente pode aplicar sanções, então o continente africano também deveria ter o direito de sancionar o Ocidente pelos seus erros.” No entanto, essa reciprocidade está ausente. A balança nunca pende a favor da África. Por que razão os países africanos não podem aplicar sanções contra o Ocidente pelas suas falhas e crimes? Talvez porque o Ocidente não está disposto a ser julgado pelos mesmos padrões que impõe aos outros. Mas então que raio de democracia é que o ocidente anda a ensinar aos africanos?

A verdadeira democracia global será aquela onde todos os países, grandes e pequenos, ricos e pobres, estão sujeitos às mesmas regras e têm o poder de responsabilizar uns aos outros. Decisões de sentido único só perpetuam a injustiça e o desequilíbrio no sistema internacional. Não há justiça em condenar uma nação inteira por causa dos crimes de um só homem. Afinal de contas o crime é transmissível.

Zimbabué: A herança de Mugabe

Robert Mugabe governou o Zimbabué com mão de ferro durante quase 40 anos. As suas políticas desastrosas, como a controversa reforma agrária que desmantelou a economia agrícola do país, levaram a uma crise económica sem precedentes. O Ocidente respondeu com sanções, dirigidas oficialmente a Mugabe e ao seu círculo de poder. Mas agora, anos após a morte do ditador em 2019, o povo zimbabueano continua a pagar o preço dessas sanções. A economia do país permanece em ruínas, com hiperinflação, desemprego elevado e uma pobreza generalizada que sufoca o futuro de milhões de inocentes. As sanções contra o Zimbabué não atingiram Mugabe enquanto vivo e agora são uma sentença injusta para o povo zimbabueano, que permanece refém da pobreza.

O que começou como uma tentativa de punir Mugabe tornou-se uma sentença perpétua contra a população zimbabueana. Perguntamos: onde está a justiça num sistema que continua a castigar aqueles que mais precisam de ajuda?

Cuba: A ilha que nunca se liberta

Da mesma forma, Cuba vive há mais de 60 anos sob o peso de um embargo económico esmagador. Fidel Castro, o homem cuja revolução levou à imposição destas sanções, já não está entre nós. Contudo, o embargo permanece como uma sombra implacável sobre a vida dos cubanos. Sanções que deveriam enfraquecer o regime acabaram por isolar o país e privar os seus cidadãos de bens essenciais, desde medicamentos a alimentos.

Os Estados Unidos mantêm a justificação de que as sanções são uma forma de promover a democracia em Cuba. Mas como podemos falar de democracia quando milhões de cubanos são privados de uma vida digna por uma punição que já ultrapassou o seu alvo? A verdadeira vítima não é o regime comunista; são os cubanos comuns, que enfrentam privações insuportáveis.

O silêncio do continente africano. Talvez o mais perturbador em todo este cenário seja o silêncio do continente africano. Zimbabué é uma nação africana que sofre, mas onde estão os líderes africanos a lutar pela remoção destas sanções?

Este silêncio é uma traição. Milhões de africanos são punidos pelas acções irresponsáveis de um homem, e os seus vizinhos permanecem em silêncio, ignorando o sofrimento de gerações inteiras. Num mundo onde as vozes africanas precisam de se unir para exigir justiça, a inacção é, por si só, uma forma de cumplicidade.

A União Africana e outras organizações regionais poderiam ter um papel decisivo ao levantar suas vozes em defesa dos milhões de inocentes que sofrem sob essas políticas. No entanto, a inércia prevalece, permitindo que as sanções continuem, sem um esforço conjunto para aliviar o fardo que pesa sobre os ombros dos cidadãos zimbabuanos.

Enquanto isso, líderes africanos devem perceber que a solidariedade entre nações em desenvolvimento é crucial. O que está acontecer no Zimbábue pode muito bem se repetir em outros países, onde as sanções impostas por grandes potências têm consequências que extrapolam qualquer acção individual de um líder autoritário.

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