GOVERNO ANGOLANO ACUSADO DE INCOMPETÊNCIA NA CRISE DOS PREÇOS DA GASOLINA
Em causa o facto do fim dos subsídios ter sido anunciado e posto em prática antes da emissão dos cartões para os taxistas.
Políticos e fazedores de opinião qualificam de “incompetentes e irresponsáveis” as entidades que assumiram a planificação e a gestão da remoção parcial do subsídio ao preço de venda da gasolina e da atribuição de cartões de consumo aos taxistas.
Em causa o facto do fim dos subsídios da gasolina ter sido anunciado antes de terem sido emitidos os cartões para os taxistas assegurando-lhes abastecimento aos preços antigos
O processo já resultou em mortes e prisões de várias pessoas pelo país como resultado da descoordenação que se verifica entre os vários sectores intervenientes que, segundo os analistas, minimizaram a dimensão da demanda em relação à oferta.
Para o analista político e social, Elson de Carvalho, o plano de distribuição dos cartões de abastecimento de gasolina não teve em conta a extensão do país.
“ Tem de haver responsabilização”, considera aquela activista que acusa o governo de apenas ter agido em função da reacção da sociedade por falta de estudos preliminares e de inclusão de outros actores no processo.
Por sua vez, o secretário-geral do Bloco Democrático, Muata Sebastião considera que o anúncio da distribuição dos cartões foi uma medida que visou enganar os taxistas e diz não acreditar que o desconto aos combustíveis para esta classe venha a ser aplicada tão cedo.
Fernando Guelengue, analista e investigador angolano também sugere a responsabilização do Executivo, na pessoa do Presidente da República, pela revolta social criada por falta de planeamento e auscultação aos visados sobre o impacto da retirada das subvenções aos combustíveis.
Já a vice-presidente do MPLA, Luísa Damião assegurou, nesta quinta-feira, 8, que o seu partido vai acompanhar a aplicação das medidas anunciadas pelo Governo através de uma campanha de esclarecimento à população “dos ganhos com a retirada dos subsídios aos combustíveis”.
Entretanto, o administrador do Instituto de Gestão de Activos e Participações do Estado (IGAPE), Raimundo Santa Rosa, admitiu nesta quarta-feira, 7, num encontro com a imprensa, que houve falhas de comunicação nos vários níveis da tomada de decisão no processo de redução dos subsídios aos combustíveis.
“O que aconteceu no Huambo e no Lubango é lamentável, isso toca a todos nós, não era o esperado” tendo anunciado que estão a promover sessões de esclarecimento com vários sectores da sociedade.
Aquele responsável sustentou que” tudo foi feito para que isso não acontecesse, mas pensamos que com os esforços que estão a ser feitos desde o princípio isto está a ser mitigado na maior velocidade possível”, num encontro com jornalistas para esclarecimentos e recolha de contribuições.
Na passada terça-feira, os Ministérios dos Transportes e das Finanças fizeram saber que a distribuição de cartões às províncias começou nesta quarta, 7 , e que “estão em processo de emissão cerca de 23 mil solicitações junto dos bancos, onde se exige um trabalho com detalhes técnicos de segurança, para evitar percalços futuros”.
“Apelamos à necessidade de todos os taxistas, moto-taxistas e pescadores artesanais manterem o preço vigente, bem como a calma e a serenidade”, lê-se na nota de imprensa, disponível no portal do Governo.
Aqueles departamentos ministeriais anunciaram que estavam emitidos um total de dois mil e trezentos e sessenta e oito cartões, e que a meta assumida até ao final do mês de Junho “é a de se chegar a cobertura massiva dos que foram licenciados até à presente data”.
Os ministério das Finanças e dos Transportes alegam que o grosso dos taxistas e moto-taxistas licenciados “não dispõe dos respectivos cartões e, por este motivo, assumirão os encargos no abastecimento até que venham a recebê-los”.
Esclarecem que tão logo recebam os cartões, os beneficiários terão um saldo disponível equivalente ao valor diário acumulado desde o dia 2 de Junho, para assim cobrir a diferença entre o preço actual e o preço anterior.
“Os cartões serão entregues nas administrações municipais, através das direcções municipais de transportes, tráfego e mobilidade urbana bem como nas direcções municipais de agricultura e pescas, onde os beneficiários deverão proceder ao levantamento”, disse
São igualmente beneficiários da medida de subvenção do custo da gasolina as embarcações de pesca artesanal, que já receberam os primeiros cartões”, refere a nota.