TOMOU-LHE O GOSTOE AGORA NÃO QUER OUTRA COISA – GRAÇA CAMPOS

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Apesar de não ter concretizado nada do que prometeu para o primeiro e para o que já vai do segundo mandatos, João Lourenço insinua, por antecipação, uma terceira oportunidade. É um caso de estudo

O voto é a expressão de um contrato entre duas partes. 

No plano político, o contrato envolve os eleitores e partidos e/ou candidatos que disputam a tomada do poder.

Os partidos que concorrem ao poder dizem-se capazes de fazer as realizações esperadas pelos eleitores e, por isso, recebem destes o voto de confiança.

Em 2017, o MPLA fez-se à estrada com a promessa de combater a corrupção, o nepotismo, as injustiças (promessa celebrizada pela afirmação de João Lourenço segundo a qual “ninguém é suficientemente rico que não possa ser punido e ninguém é pobre demais que não possa ser protegido), as “ordens superiores”, a bajulação, enfim, prometeu um país decente, com menos desemprego, que  diminuiria por via da criação de 500 mil novos postos de trabalho. 

São essas promessas em que os eleitores acreditaram, e deram ao MPLA uma folgada vitória com 61,1 % dos votos válidos e o consequente “caneco” presidencial a João Lourenço. 

Em 2022, os eleitores angolanos sentiram-se defraudados e puniram o MPLA porque não honrou a sua parte do contrato. Afastou-se completamente das promessas feitas. Rasgou o contrato. 

É por essa razão que até hoje são questionáveis os 51,17% que a Comissão Nacional Eleitoral atribuiu ao MPLA.

Há, até mesmo no seio do próprio MPLA, ou, pelo menos, na franja mais honesta dos seus militantes, a convicção de que, com uma Comissão Nacional Eleitoral idónea, a esta hora o poder político estaria em outras mãos e o “Partido” estaria, por “mérito próprio”, a lamber as feridas na oposição, situação, diga-se, de que não adviria mal algum para a humanidade. A democracia anda de mãos dadas com a alternância no poder.

Com João Lourenço, o prometido combate à corrupção deu lugar à impiedosa perseguição de desafectos pessoais e políticos; o nepotismo e a bajulação prosperaram assustadoramente, a intolerância política foi promovida à doutrina oficial e a diferença de opinião foi criminalizada. 

A perseguição à imprensa privada é feita à luz do sol. 

O primeiro e o que já vai do segundo mandatos de João Lourenço não esbateram as desigualdades sociais; tal como no primeiro, também no actual João Lourenço mandou às urtigas a célebre promessa de que ricos e pobres receberiam da justiça o mesmo tratamento. 

Ao presidente do Tribunal Supremo, por exemplo, João Lourenço autoriza e tolera tudo, incluindo a corrupção nas suas multifacetadas expressões. As práticas  de Joel Leonardo confirmam que, nos mandatos de João Lourenço, os ricos e poderosos têm a impunidade garantidas; a reclamação, revelada pelo próprio Presidente da República, segundo a qual, entre outras benesses, Exalgina Gamboa, enquanto presidente de Contas, exigia 1% do capital social da refinaria de petróleo em construção no Lobito, os privilégios atribuídos a grupos empresariais como Omatapalo, Grupo Carrinho e pouco mais, testemunham que João Lourenço institucionalizou a discriminação, a roubalheira, o saque e a pilhagem no país.

Com João Lourenço, há um restrito grupo de angolanos a quem é permitido o self service com dinheiro público.

Com João Lourenço, a opacidade já quase ganhou dignidade constitucional. Embora se gabe de ser o pioneiro do combate à corrupção, os angolanos desconhecem os resultados dessa luta. Frequentes vezes, a PGR aludiu a biliões de dólares e a vastíssimo de património imobiliário que teriam resultado do combate à corrupção. Mas, aos angolanos nunca foi dada qualquer explicação sobre o destino da maioria do património que supostamente passou para a esfera pública. 

Além de uns poucos juízes e procuradores de tribunais superiores, contemplados com casas e carros, onde estão os principais ganhos? 

Com que ficaram as casas e outros equipamentos imobiliários que a PGR diz ter tomado a “marimbondos” no estrangeiro?

Os níveis de rejeição popular ao MPLA estão hoje na “estratosfera”. Não é por acaso.

É por essa razão que o MPLA deveria chamar a Luanda as maiores autoridades mundiais em Psiquiatria e Psicologia para estudarem a motivação de João Lourenço para um terceiro mandato presidencial.

Em Kimbundu dir-se-ia, e com toda a razão, que “mona wa saluka”.

Angola está, de facto, perante um caso de estudo.

Alguém precisa de esclarecer o que leva João Lourenço a acreditar que os angolanos lhe dariam uma terceira oportunidade. 

É certo que há, entre os angolanos, alguns indivíduos que trocaram a racionalidade pelo fanatismo e bajulação.

Ou, como diz Sérgio Raimundo, trocaram a dignidade por um prato de arroz e peixe frito.

Mas, a generalidade dos angolanos é sensata e, mais do que isso, não é masoquista. 

A “obra” de João Lourenço não dá a menor hipótese a um terceiro mandato por vias convencionais. Ela fala por si.

Mas, “daltónico” como parece ou finge ser, o Presidente João Lourenço não acredita nos factos.

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