OS PROXIMOS A SEREM PERSEGUIDOS PELA JUSTIÇA: CARRINHO COMPRA POR JUNTO E ATADO – GRAÇA CAMPOS

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Menos de dois anos depois de haver comprado, a um preço que o mercado considerou como irrisório, o Banco do Comércio e Indústria, o Grupo Carrinho é um, se não o mais forte candidato à adquirir as acções do Estado no Banco de Fomento Angola (BFA).

Em Dezembro de 2021, o Grupo Carrinho, cujo core business inicial era a distribuição alimentar, comprou ao Estado o Banco do Comércio e Indústria por 16, 5 mil milhões de kwanzas, aproximadamente 29 milhões de dólares ao câmbio de então, um negócio em que o Estado foi quase unanimemente considerado como perdedor.

Empresas imobiliárias quantificavam, apenas a sede do BCI, situada à nobre Avenida Rainha Njinga, à baixa luandense, em mais de 50 milhões de dólares.

Por menos de 30 milhões, o Grupo Carrinho comprou a sede e as dezenas de agências que o banco tinha espalhadas por praticamente todo o país.

O Estado é detentor de 26% das acções do Banco de Fomento Angola em decorrência da apropriação, por via da nacionalização, das acções que a Vidatel, de Isabel dos Santos, e Geni, de Leopoldino (Dino) Fragoso e António Van-Dúnem detinham na UNITEL. Juntamente com a Sonangol, o capital angolano no BFA é de 52%. Os remanescentes 48% são detidos pelo Banco Português de Investimento (BPI), de que é proprietária a espanhola CaixaBank.

Para alcançar a posição maioritária, o Grupo Carrinho comprará, primeiro, as acções do BPI.

Fontes conhecedoras do assunto, garantiram ao Correio Angolense que as negociações entre o Grupo Carrinho e o BPI estão praticamente fechadas.

Este jornal sabe que as exigências do BPI estão entre os 250 e 300 milhões de euros.

“O negócio foi célere porque a espanhola CaixaBank desinteressou-se do mercado angolano”. 

Às acções que comprará ao BPI, ao Grupo Carrinho bastará acrescentar mais 3 ou 4% que comprará ao Estado para torna-se no maior accionista do BFA.

O  secretário de Estado para as Finanças e Tesouro, Otoniel dos Santos anunciou há dias a alienação, em breve, das acções ou participações do Estado no BFA, UNITEL, ENDIAMA, ENSA e na TV Cabo.

“Fechado o negócio com o BPI, ao Grupo Carrinho só faltariam entre 3 a 4% das acções do BFI para tornar-se no maior accionista do banco.”, prognostica a fonte do Correio Angolense.

Citado pelo portal Angola-Online como um dos candidatos à compra de “fracções” do BFA, o empresário Minouro Dondo negou redondamente a informação.

Ao Correio Angolense, ele garantiu: “estou completamente fora da corrida”.

O IGAPE exige, pelo menos, 300 milhões de euros pelas acções do Estado no BFA

Totalmente detida pelo Estado, a Unitel, a mais importante e lucrativa empresa de telefonia celular, também será vendida e, por, mera “coincidência, o principal candidato à sua compra é o Grupo Carrinho.

Embora seja avaliada em várias centenas de biliões de dólares, por causa do seu consistente histórico de lucros, nos meios empresariais teme-se que a UNITEL caia no colo da Carrinho a “preço de amigo”.

Por preço de amigo os angolanos referem-se a preços abaixo muito abaixo do valor da mercadoria.

Até à sua nacionalização, o ano passado, a UNITEL estava dividida em três blocos: Vidatel (Isabel dos Santos), com 25%; Geni (Dino Fragoso e António Van-Dúnem (25) e Sonangol (50%. A petrolífera nacional pagou 1 bilião de dólares para comprar os 25% que eram detidos pela brasileira Oi).

As fontes do Correio Angolense não souberam dizer se o Grupo Carrinho disputará a compra da Unitel em consórcio ou se o fará sozinho.

Nos meios políticos e financeiros é unânime a convicção de que as aquisições do Grupo Carrinho de património público são ditadas de cima.

“A actuação da Carrinho assemelha-se à da formiga: armazena comida no tempo do verão para ter um inverno de abastança. Ou seja, alguém está a acautelar já o seu futuro”.

O Presidente da República  (na foto com membros da família do grupo) nunca disfarçou o apreço e carinho que tem pelo grupo empresarial benguelense.

Em Janeiro passado disse numa entrevista colectiva que o Grupo Carrinho era a única empresa angolana com capacidade para tirar proveito de uma linha de crédito alemã de 1 bilião de dólares.

 “(…) o Executivo angolano negociou, com o Deutsche Bank da Alemanha, a abertura de uma Linha de Crédito no valor de 1.0 mil milhões de Euros, para financiar, exclusivamente, o sector privado angolano e esta linha está disponível, se não estou em erro, há dois ou três anos. (…) Passado esse tempo, apenas uma única empresa privada angolana conseguiu provar que estava habilitada a beneficiar dessa mesma Linha de Crédito (…)Para o caso dessa Linha de Crédito, importa dizer que quem beneficiar dela fica coberto por uma Garantia Soberana do Estado angolano. (…) A única empresa privada angolana que provou estar habilitada a beneficiar desse crédito, num valor abaixo de 200 milhões de Euros, chama-se Leonor Carrinho”.

Nessa entrevista, o Presidente da República classificou como “vergonha” o desinteresse ou incapacidade de outros grupos empresariais de concorrerem a essa linha de crédito.”Algumas vezes vamos perguntando aos nossos empresários o que se passa? É uma vergonha! Perante o credor, perante o banco alemão, o que é que nós angolanos vamos dizer? Que imagem é que estamos a passar?”

Depois dessas perguntas, o Presidente da República voltou a cobrir o Grupo Carrinho com rasgados encómios.“(…) isso para dizer que se o Grupo Leonor Carrinho é o único que conseguiu passar no exame significa que é o único que conseguiu dar garantias  reais, talvez não de património, mas de organização empresarial, de contabilidade; talvez conseguiu dar essas garantias, quer ao credor, o banco credor, quer ao Executivo angolano, que emitiu a Garantia Soberana”.  

Nessa entrevista, João Lourenço pareceu ter do Grupo Carrinho informações que os próprios guarda-livros da empresa desconhecem ou não dominam totalmente.

Em Outubro de 2017, ainda sob os efeitos de uma tomada de posse muito bem aceite pela população, o Presidente João Lourenço prometeu quebrar o monopólio que 

Isabel dos Santos deteria na indústria cimenteira.

No sexto ano do mandato de João Lourenço, o substantivo monopólio ganhou outro significado.

Acumular bancos e outros negócios no Grupo Carrinho é tudo, menos monopólio.

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