O ADEUS AO MANO CHABA E AS LIÇÕES QUE FICAM PARA OS ANGOLANOS

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(Noé Francisco Dias Mateus é Pastor, Teólogo, Escritor, Pan-Africanista, Mestre em Estudos Psicanalíticos, Pesquisador e Investigador dos assuntos Africanos.)

Luanda-A morte prematura de Mano Chaba não é apenas um evento trágico de uma vida interrompida, ela reflete os desafios colectivos que a juventude africana enfrenta, enquanto a análise psicanalítica revela as profundas questões emocionais e culturais que envolvem essa perda principalmente na comunidade Cacuaco, bairro paraíso.

O sofrimento da juventude das periferias de Angola se agudiza diante da morte prematura de Mano Chaba um ícone cultural que estava em ascensão, ainda mais porque não se curaram da morte de Nagrelha outro ícone do estilo Kuduro, e voltam a sofrer esse duro golpe.

A morte prematura de Mano Chaba, jovem cantor angolano do estilo kuduro, por afogamento na ilha de Luanda que está a gerar uma grande repercussão inclusive internacional, levanta muitas questões sobre a causa da morte que apesar dos vídeos postos a circular muita coisa precisa ser explicada pelas pessoas com quem ele estava antes do fatídico acidente e pode ser analisada não apenas para entendemos o ocorrido, mas também o significado mais profundo desse evento dentro do contexto cultural e histórico de Angola e do continente africano como um todo.

O kuduro, um estilo musical que nasce das periferias urbanas de Luanda, é um exemplo de resistência cultural. Ele foi uma resposta à marginalização, com uma estética vibrante e de protesto, especialmente entre a juventude, que busca afirmar sua identidade frente à modernização e à globalização.

Uma pessoa não pode simplesmente morrer afogada em situações pouco esclarecedora, principalmente num ambiente que ele aparentava estar fora de si, e denunciando que não sabia nadar ao mesmo tempo que os amigos claramente o persuadiam a lavar o cabelo mesmo não sabendo nadar. A morte de um jovem promissor como Mano Chaba em circunstâncias tão trágicas pode ser interpretada como um símbolo da vulnerabilidade da juventude africana perante os desafios estruturais do continente.

O facto de ele ter falecido por afogamento em uma zona de grande agitação e contraste social, como a Ilha de Luanda, também carrega consigo uma carga simbólica, a ilha, com sua beleza e suas contradições, reflete um microcosmo das disparidades sociais e da luta por espaço, seja na vida cotidiana ou na vida cultural.

A tragédia de Mano Chaba, portanto, não é apenas pessoal, mas também um reflexo das dificuldades mais amplas enfrentadas pelos jovens africanos e nos lembra da fragilidade da vida diante de uma história marcada por traumas e desigualdades profundas, ressoando com as narrativas de muitos jovens africanos que, apesar de seus talentos e potencial, acabam sendo vítimas de uma sociedade que frequentemente falha em protegê-los.

A morte prematura de um jovem artista como Mano Chaba também pode ser entendida como uma ruptura abrupta no processo de individuação, algo que Jung descreveu como a jornada contínua do indivíduo para se tornar quem ele é realmente, integrando seus conflitos internos e externas. No caso de um jovem artista, sua morte representa não apenas o fim de uma vida, mas o rompimento de um potencial artístico e pessoal que jamais será totalmente desenvolvido.

A morte de Mano Chaba também pode ser vista como um trauma colectivo para seus fãs e para a comunidade kudurista. No campo psicanalítico, o conceito de “luto coletivo” se refere à forma como uma comunidade lida com a perda de um ícone cultural ou figura representativa. O luto colectivo pode ser mais complexo, pois envolve tanto o impacto emocional profundo causado pela perda do indivíduo como também um sentimento de perda simbólica em relação ao que ele representa para um grupo social ou cultural.

Pelo que se vê hoje, um pouco por todo lado principalmente em Angola, Mano Chaba, não era apenas um cantor, mas uma voz da juventude angolana, alguém que representava sonhos, lutas e conquistas para muitos.

Além disso, a morte de Mano Chaba, através do afogamento, evoca a ideia do “afundar” um simbolismo que pode estar relacionado à sensação de estar submerso em um mar de dificuldades, uma metáfora possível para o sofrimento das classes populares em muitas sociedades africanas. A água, em muitas culturas, simboliza o inconsciente, e o afogamento pode ser interpretado como uma morte que advém da incapacidade de emergir de uma condição de opressão ou trauma não resolvido.

A luta de Mano Chaba, representada pela sua música, estava em constante confronto com essa opressão, e sua morte abrupta pode ser vista como uma metáfora de um jovem tentando navegar nas águas turbulentas da vida e, por fim, sucumbindo a elas.

A tragédia de sua morte também levanta questões sobre o destino, a violência estrutural e as forças externas que determinam os destinos individuais. Elementos que ele procurou apresentar em muitas das suas entrevistas.

As lições que ficam dentro do campo da psicanálise, ao explorar o nosso inconsciente, nos lembra de que, muitas vezes, precisamos ter cuidado com as pessoas e ambientes que frequentamos porque não estamos no controle total de nossas trajectórias, e a morte de figuras como Mano Chaba podem servir como um lembrete de que todos, principalmente a juventude, muitas vezes não importa o quão talentosa ela seja, é interrompida por forças que não podem ser facilmente controladas ou previstas.

Adeus Mano Chaba. UBUNTU!

 

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