GASOLINA “INCENDEIA” O HUAMBO E MENOR DE 12 ANOS ABATIDO PELA POLICIA NACIONAL COM TRÊS TIROS

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Os manifestantes que saíram às ruas, nesta segunda-feira, 5, na província do Huambo, em protesto contra a subida do preço da gasolina acusam os efectivos da Polícia Nacional (PN) e da Polícia de Intervenção Rápida de terem morto, pelo menos, três pessoas, incluindo um menor de 12 anos de idade, e deixado dezenas de feridos.

A província do Huambo acordou num ambiente de autêntico alvoroço, entre o grito de indignação de moto-taxistas que, às dezenas, decidiram levar a efeito várias manifestações nas principais vias da Zona Baixa, Alta e arredores do Benfica, em protesto contra a nova medida adoptada pelo executivo em duplicar o preço da gasolina.

Embora esta não tenha afectado a classe dos taxistas, moto-taxistas, autocarros e embarcações de pesca artesanal, o dia de hoje acabou por não reflectir a eficácia da informação de que os automobilistas do serviço de táxi poderiam, nesta fase, adquirir a gasolina ao preço de 300 kwanzas, já que o governo prometeu ressarci-los, quando fossem entregues os cartões com os respectivos plafonds.

Os primeiros vídeos a serem partilhados nas redes sociais mostraram um corpo desfalecido de um jovem taxista, cravo de uma bala, que o atingiu na cabeça, disparo este atribuído a efectivos da Polícia de Intervenção Rápida (PIR).

Numa outra imagem, aparece o carro da Polícia Nacional a transportar um outro cadáver de um segundo manifestante morto. Porém, bem mais para o final do dia, nas redes sociais surgiu a imagem de um menino de 12 anos de idade, atingido com três tiros na cabeça por alegados efectivos da PN. A denúncia, feita por um tio da criança, é ilustrada com o corpo do menor já na morgue.

“Meu querido sobrinho foi baleado [pelos] polícias aqui no Huambo, Benfica. Criança de 12 anos de idade. Descansa em paz, meu querido sobrinho. Te amo. Se der, partilhem”, apelou, desafortunado, o tio do menor.

Numa outra postagem aparece um outro testemunho sobre o mesmo episódio da criança morta: “Foram três tiros no meu caçula. PNA não era para ser assim. Descanse em paz, meu caçula Cris”.

O porta-voz da Polícia Nacional no Huambo, intendente Martinho Kavita, contou à imprensa que os tumultos iniciaram pouco antes das 7h00 de hoje, quando as duas classes de transportadores barraram estradas, queimando pneus e colocando pedras nas principais vias de acesso.

Segundo Martinho Kavita, houve a necessidade de accionar a Polícia de Intervenção Rápida (PIR), “para poder repor a situação da ordem na cidade”, referindo que foram arremessadas pedras contra infra-estruturas públicas e privadas.

Em alguns vídeos que circulam nas redes sociais, assiste-se à intervenção da Polícia de Intervenção Rápida nas ruas, com o máximo da sua força, lançando granadas de fumo e reprimindo os manifestantes usando meios letais. Ouviram-se muitos disparos e em várias artérias viram-se também várias fumaças pelo ar.

Nos vídeos que foram surgindo, os populares acusavam os efectivos da Polícia Nacional de terem disparado friamente contra os manifestantes, o que acabou por vitimar dois deles (o jovem que aparece deitado no chão, atingido na cabeça e o outro corpo que surge no carro da própria PN).

Entretanto, Martinho Kavita confirmou apenas a detenção de manifestantes — sem esclarecer o número —, deu nota da apreensão de veículos e motorizadas, bem como se referiu aos danos materiais de bens públicos e privados, sem dar nenhuma nota do número de mortos e feridos.

“Há relatos de haver danos a património público e privado. Pensamos que, até ao final do dia, estaremos em melhores condições de aferir o que realmente foi danificado”, salientou, ignorando a perda de vidas humanas.

O porta-voz da polícia no Huambo disse ainda que os tumultos foram registados em toda a cidade do Huambo, incluindo no município da Caála.

O governo deu início, na sexta-feira, 2,  à redução gradual da subvenção aos combustíveis, começando pela gasolina, que passou de 160 kwanzas o litro para 300 kwanzas, em princípio, sem não afectar a classe dos transportes públicos, bem como os taxistas, moto-taxistas, autocarros e embarcações de pesca artesanal.

A atribuição de cartões personalizados, com um plafond diário de 7.000 kwanzas, foi o mecanismo encontrado pelo governo para atender apenas os membros licenciados desta classe.

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