ESPECIALISTA DEFENDE EXCLUSIVIDADE DO ESTADO NO ENSINO DA SAÚDE

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O especialista em Saúde Pública, Qualidade e Segurança do Paciente, Acácio Samuel Silas, defendeu, ontem, segunda-feira, 13, em Luanda, que o Estado deve recuperar, urgentemente, o monopólio do ensino das Ciências da Saúde.

O professor universitário esclareceu que é fundamental o regresso dessa estratégia para se recuperar a qualidade que se verificava no ensino nos anos anteriores.

Para que se consiga essa exclusividade no ensino das Ciências da Saúde pelo Governo, sugeriu a retirada da licença às instituições de propriedade privada.

“Quando se deixa os cursos de Saúde sob gestão privada e num contexto de África não teremos resultados qualitativos. Então, muitos dos óbitos que acontecem nos hospitais estão relacionados aos erros cometidos pelos profissionais mal formadossaídos destas instituições”, disse.

Por exemplo, Acácio Samuel Silas, que é professor do Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Agostinho Neto, criticou duramente os estudantes que terminam o curso de Enfermagem, por considerar que muitos desses não sabem sequer fazer um registo do doente, canalizar uma veia e apresentarem grandes dificuldades para dar banho ao paciente. Com isso, disse que não se pode esperar resultados positivos e qualitativos a nível dos hospitais.

“ESSA SITUAÇÃO É FRUTO DA FORMAÇÃO DEFICITÁRIA NO PAÍS”.

O também docente da Universidade de Havana lamentou o facto de que quando se vai a Cuba estudar, por exemplo, os poucos obrigados a frequentar o ano zero são angolanos, uma vez que os demais estrangeiros ingressam logo para o primeiro ano.

REFORMULAR A SAÚDE PÚBLICA

O especialista defendeu, igualmente, a reformulação do Sistema Nacional de Saúde Pública, com foco e direccionamento à assistência primária a partir das famílias, no sentido de se reduzir a elevada taxa de mortalidade registadas a nível das unidades sanitárias.

Acácio Samuel Silas realçou ser imperioso que a reformulação do Sistema Nacional de Saúde Pública leve em conta as directrizes estabelecidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que prevê bons investimentos e profissionais qualificados e comprometidos com a causa, principalmente no que toca à assistência primária.

Explicou que quando não se investe a sério na atenção primária acaba por se colher óbitos precoces, uma vez que as doenças que deveriam ser combatidas nestas unidades evoluem para patologias crónicas.

Em função dessa realidade, prosseguiu, os Governos são obrigados a gastar mais dinheiro nas unidades de nível terciário, porque os pacientes acabam por precisar de tratamento mais demorado e profundo.

Acácio Samuel Silas, que é, igualmente, chefe dos Serviços de Home Care (Acompanhamento ou Cuidados Domiciliares), numa clínica privada de Luanda, explicou que a assistência primária de saúde tema ver com as unidades sanitárias básicas e estratégias de saúde da família, no sentido de ter como finalidade a prevenção de doenças e a redução significativa de custos.

O especialista avançou que a Saúde Pública deve trabalhar dentro das comunidades e com as famílias, por ser nessas onde são diagnosticadas as patologias e os vários problemas sociais que proporcionam o surgimento de enfermidades.

Sugeriu que a equipa de Saúde Pública que for trabalhar com as comunidades tem de ser multidisciplinar, envolvendo médicos de várias especialidades, enfermeiros e, até, psicólogos, porque estes últimos têm um papel importante no tratamento da Saúde Mental das famílias.

A justificar a envolvência dos psicólogos, explicou que “Angola viveu um longo período de guerra, fazendo com que muitas famílias se movimentassem e ficassem movimentassem e ficassem completamente desestruturadas, o que causou o chamado stress traumático pós-guerra”.

Avaliação dos pacientes sobre a qualidade dos doentes que aparecem nas unidades públicas de saúde, Acácio Samuel Silas disse que os avalia em duas formas: Primeiro, trata-se de pacientes que chegam à rede hospitalar desorientados e, segundo, muitos em estado bastante avançado.

“E quando vai se ver o histórico desses doentes, percebe-se que, muitas vezes, eles não tiveram nenhuma passagem pelas unidades básicas de saúde, quando na verdade, estas patologias já deveriam ser atacadas lá. Mas, devido à precariedade desses serviços, eles preferem avançar directamente aos hospitais de nível terciário”, salientou.

Esclareceu que os hospitais de nível terciário, em regra, serviriam apenas para acudir situações mais complexas e internamentos mais longos.

“Se esses hospitais começarem a assistir a maioria dos pacientes que deveria ser atendido nas unidades primárias, os doentes gravíssimos e com problemas mais complexos, encontram as unidades terciárias cheias e, por falta de assistência rápida, podem acabar por morrer”.

Sobre os investimentos feitos no sector da Saúde, Acácio Samuel Silas reconheceu os grandes esforços que o Executivo tem feito, mas criticou a questão da falta de melhor direccionamento dessas alocações.

REDUÇÃO DO ALTO ÍNDICE DE MORTALIDADE

O especialista em Saúde Pública, Qualidade e Segurança do Paciente informou que, segundo a OMS, Angola está entre os cincos países com os piores índices de mortalidade, principalmente a infantil.

Acácio Samuel Silas alerta que, se a situação não for revertida com urgência, estes indicadores podem continuar a subir. Daí reiterar a necessidade de uma aposta na problemática da assistência primária de saúde pública.

O especialista defendeu a uniformização do Sistema Nacional de Saúde Pública, tendo em conta que, actualmente, os instrumentos e as normas usadas no Hospital Josina Machel são diferentes a de outras unidades com a mesma natureza.

“lsso demonstra que as instituições hospitalares públicas não têm a mesma linguagem. E uma situação que dificulta a assistência condigna dos pacientes”, lamentou.

PAÍS DEVE APOSTAR NUM NOVO MODELO EDUCACIONAL

O professor universitário afirmou que Angola já teve um dos melhores sistemas de ensino de África, mas lamentou o facto de, nos dias que correm, de forma geral, a formação ser deficitária.

Realçou que o país tinha um modelo concreto para seguir à risca, que era o português, mas as coisas boas do ensino foram-se perdendo com o tempo.

“E, hoje, não temos um Modelo Educacional nem na Saúde e tampouco nas outras áreas. As escolas de Saúde, apesar de muitas, trabalham de forma diferenciada. Por isso, considero que, de todos os países que conheço, Angola é o lugar mais fácil para se estudar Medicina, porque há pouco rigor”.

O especialista salientou que, para se ter um Sistema de Saúde Pública funcional, se deve levar em conta a formação dos profissionais do sector e, neste quesito, o país está mal, principalmente no que concerne à especialização em Enfermagem Pediátrica, daí a taxa de mortalidade infantil ser uma das mais altas do mundo.

Acácio Samuel Silas referiu que existem várias Universidades no país, mas nenhuma tem o curso de especialização em Enfermagem Pediátrica.

Essa situação leva com que os que trabalham nos hospitais pediátricos aprendam tudo nessas unidades, por falta de formação académica nesta área, numa altura em que os enfermeiros são o maior suporte em nível dos estabelecimentos clínicos.

Em relação à especialização em Saúde Pública, disse que o país tem vários quadros formados nesta área, mas, infelizmente, não actuam nela, por ficarem mais tempo nos gabinetes ou em outras funções, quando na verdade deviam ir às comunidades ver os problemas e apresentá-los a quem traça as em Enfermagem Pediátrica. Essa situação leva com que os que trabalham nos hospitais pediátricos aprendam tudo nessas unidades, por falta de formação académica nesta área, numa altura em que os enfermeiros são o maior suporte a nível dos estabelecimentos clínicos.

Em relação à especialização em Saúde Pública, disse que o país tem vários quadros formados nesta área, mas, infelizmente, não actuam nela, por ficarem mais tempo nos gabinetes ou em outras funções, quando na verdade deviam ir às comunidades ver os problemas e apresentá-los a quem traça as Políticas Públicas de Saúde para o combate das patologias.

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