PRIMEIRA-MINISTRA CONGOLESA EXCLUI DIÁLOGO COM O RUANDA SOBRE CONFLITO NO LESTE DO PAÍS
A primeira-ministra congolesa, Judith Suminwa, rejeitou qualquer tipo de diálogo com o Ruanda sobre os confrontos no leste do país entre o exército e o grupo rebelde Movimento 23 de Março (M23).
PORTAL O LADRÃO
“O Presidente [Felix Tshisekedi] foi claro. Não negociaremos com aqueles que nos atacam”, disse Suminwa na cidade de Goma, capital da província de Kivu do Norte (leste), segundo o portal de notícias congolês 7sur7.
A primeira-ministra da República Democrática do Congo (RDCongo) defendeu que Kinshasa tem acordos para pedir apoio aos países da região para “forçar os agressores a cessarem os seus ataques” e deu como exemplo o Pacto de Luanda, que levou ao envio de tropas internacionais para tentar conter a situação.
“Se pudermos, através da diplomacia, forçar os nossos agressores a parar os seus ataques, isso seria benéfico e permitir-nos-ia economizar nessa frente”, disse Suminwa, apelando a um “maior reforço” do exército “para garantir a segurança do Estado e das fronteiras”.
As declarações de Suminwa surgem um dia depois do Presidente angolano, João Lourenço, mediador da União Africana para o conflito, ter dito que pode estar para breve um encontro entre os chefes de Estado da República Democrática do Congo (RDCongo) e do Ruanda, para falarem sobre a paz, e quase uma semana depois de o Presidente do Ruanda, Paul Kagame, ter afirmado que o país está “preparado” para entrar em guerra com a RDCongo se não houver outra opção.
“Se a situação no leste da RDCongo e os seus derivados afetarem o nosso território, estamos prontos a lutar”, disse Kagame numa entrevista à televisão France 24, sublinhando que o conflito tem origem no apoio de Kinshasa a grupos extremistas hutus que fugiram para o país após o fim do genocídio de 1994.
“Temos de compreender o que é o M23”, disse, antes de insistir que “o Ruanda não criou o M23”.
“Como é que se explica que tenhamos 100.000 refugiados, que haja pessoas perseguidas pela sua identidade no leste da RDCongo e que agora queiram torná-las cidadãos ruandeses, quando elas são congolesas?”, questionou, adiantando que está disposto a encontrar-se com Tshisekedi e recordando que é o Presidente congolês “que estabelece as condições”.
O M23 é um grupo rebelde formado maioritariamente por tutsis congoleses e que opera principalmente na província de Kivu do Norte, no leste da RDCongo.
Após um conflito entre 2012 e 2013, em que o exército congolês foi apoiado por tropas da ONU, as autoridades congolesas e o grupo assinaram um acordo de paz em dezembro de 2013.
Na quinta-feira, o Presidente angolano referiu a possibilidade de um encontro entre as partes.
“Nós estamos a negociar a nível ministerial, na perspetiva de muito em breve conseguirmos colocar os dois chefes de Estado, Presidente [Felix] Tshisekedi, da RDCongo, e o Presidente Paul Kagame, do Ruanda, a conversarem diretamente sobre a necessidade inadiável de se encontrar a paz definitiva para aquela região”, disse João Lourenço.
João Lourenço manifestou-se optimista “em como, tarde ou cedo”, se encontrará a solução definitiva que vai levar a paz à RDCongo, país vizinho de Angola.
“A guerra não é boa para ninguém, ambos os países perdem com a situação que se vive actualmente, não apenas a RDCongo, mas toda aquela região dita dos Grandes Lagos se ressente do conflito vigente naquela região do nosso continente”, frisou.