A VISÃO DOS JOVENS SOBRE OS DESAFIOS DA PRESIDÊNCIA ANGOLANA NA SADC

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A integração efectiva, mais formação, emprego, capacitação técnica, facilitação na mobilidade e oportunidades de estágios nas instituições regionais figuram entre os principais desafios na visão dos jovens com a presidência de Angola na Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), agendada para a próxima quinta-feira, em Luanda.

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Jovens na sua maioria estudantes e pesquisadores do estudo das Relações Internacionais entrevistados pelo Jornal de Angola consideram, também, que apesar de a Região Austral ser a mais pacífica do continente, constam, ainda, dos desafios a manutenção da paz e segurança, construção de infra-estruturas de apoio ao comércio, bem como a consolidação das democracias.

Para Heriana Romeu a participação activa de mais jovens na integração da SADC não deve ser uma simples “retórica, mas uma realidade” e sublinha que a juventude tem muito a contribuir em projectos sociais, cívicos, económicos e culturais da região.

A também coordenadora do Núcleo de Estudantes de Relações Internacionais (NERI) falava à margem da Palestra Pública sobre “A dinâmica da integração da SADC – Conquistas, desafios e perspectivas”, promovido recentemente, pela Academia Diplomática Venâncio de Moura, à margem da 43ª Cimeira dos Chefes de Estado e de Governo da SADC, que decorre de 7 a 17 na capital angolana.

Na sua visão, é o momento certo para uma “verdadeira integração efectiva” entre os países da SADC que se traduz em benefícios recíprocos. Acredita que a SADC tem tudo para dar certo, mas desde que os Estados-membros se predisponham a cooperar.

“É fundamental que os Estados tenham uma visão mais realista das suas políticas internas e externas e alinhá-las aos interesses da organização, porque o sucesso da SADC será resultado das convergências dos interesses comuns”, acentuou.

Heriana Romeu lembrou mais adiante que, nenhum Estado atinge notoriedade na arena internacional, se não cooperar com os demais. Por isso, apela que os países da região devem manter a coesão, conjugar esforços e manter o foco na prosperidade aproveitando os recursos naturais de que dispõem.

Inclusão dos jovens

Por seu turno o jovem Daltom Macama destacou que África tem cerca de 1,8 mil milhões de habitantes, dos quais 70 por cento são jovens. No seu ponto de vista, estes indicadores demonstram que é preciso incluir a juventude nos desafios e políticas da organização.

“A taxa média do desemprego juvenil é de aproximadamente 12%, com as mulheres jovens em pior situação na maioria dos países. A superação destes entraves é fundamental para explorar os dividendos demográficos resultantes da enorme proporção de jovens de aproximadamente 35% da população”, apontou, citando um estudo publicado em 2018.

“Se os jovens estiverem incluídos nos programas e políticas da região mais facilmente vão identificar-se com os valores que norteiam a organização. É preciso que as oportunidades sejam iguais para todos os géneros, bem-estar, inclusão, educação de qualidade e mais empregos”, salientou.

No seu ponto de vista, a redução do desempregado juvenil na África Austral reduzirá significativamente as tensões sociais e crises políticas, considerando que são maioritariamente os jovens que revoltados com várias situações sociais promovem a instabilidade em muitos países africanos.

Por outro lado, Dalton Macama realça que a política interna é a continuação da política externa. Para o estudante de Relações Internacionais, Angola terá o desafio de pacificar algumas zonas em conflitos na região, nomeadamente, na República Democrática do Congo, mas precisamente na região do (Kivo Norte) e o terrorismo em Moçambique.

O estudante de Relações Internacionais considera, também, que apesar de a SADC ser uma região pacífica “Angola não terá uma presidência fácil a julgar pela predominância de pequenos constrangimentos em alguns países como os embargos no Zimbabwe e os ciclones em Moçambique e Madagáscar”.

“Mas, acredito que o Chefe de Estado, João Lourenço, fará todo esforço para minimizar o impacto destes entraves, tal como o tem feito enquanto presidente da Conferência Internacional sobre a Região dos Grandes Lagos”, enfatizou.

Por sua vez, Daniel Panzo sublinhou que a SADC é uma instituição de cariz multilateral que enfrenta vários desafios como a segurança, educação, e programas económicos concretos, sobretudo ligados às infra-estruturas.

Escoamento da produção

“A SADC precisa mobilizar e disponibilizar mais recursos financeiros para a construção de infra-estruturas que facilitam o escoamento da produção entre os países. O Corredor do Lobito que se apresenta como um grande catalizador para o desenvolvimento da região precisa do apoio de todos”, afirmou.

Para o estudante de Relações Internacionais, é preciso que a presidência angolana continue com os esforços da manutenção da paz e segurança para que o desenvolvimento sustentável seja uma realidade na organização.

Sublinhou que Angola foi feliz ao eleger o lema “Capital humano e financeiro” para o seu mandato o que evidencia o compromisso com o descolamento económico e com a população da SADC constituída maioritariamente por jovens.

Já o estudante Manuel Zau partilha da mesma opinião de que a SADC precisa efectivar a “plena integração regional”. Neste particular, defendeu que os Estados-membros têm a missão de concretizar as agendas e os projectos analisados nos vários encontros técnicos visando ao bem-estar dos povos.

“A livre circulação de pessoas e bens são outro dos desafios da organização. Existem muitos mecanismos que podem ser implementados para que esta questão seja ultrapassada, tal como acontece na União Europeia”, ressaltou.

Para ele, os jovens representam o futuro do amanhã e estes devem estar no topo das prioridades dos vários programas da SADC e que possam encontrar uma porta aberta para o diálogo. “Os projectos gizados devem responder aos anseios da juventude nos vários domínios”.

Licenciado em Relações Internacionais, Jefté Lengo disse que apesar de muitos desafios, a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral alcançou, nos últimos anos, feitos notáveis, tendo conseguido manter um dos principais princípios que é a manutenção da paz e segurança.

Em relação ao contributo dos jovens da SADC, o especialista assegura que “não há integração sem a inclusão da juventude considerada a força motriz de qualquer sociedade”.

“A SADC tem um capital humano forte que por falta de oportunidades preferem imigrar em outras partes do mundo em busca de melhores condições de vida. É preciso que as políticas voltadas para os jovens sejam mais atractivas e realistas”, indicou, enfatizando que “os mais velhos têm a sabedoria e os jovens a força. Essa união pode alavancar a região”.

Recém-formado em Relações Internacionais, Ndombele Bernardo frisou que a presidência angolana na SADC é uma soberana oportunidade que “vem no momento certo”, tendo em conta sua vasta experiência na pacificação do continente e o peso que granjeou a nível internacional.

“Não tenho dúvidas de que as questões ligadas ao terrorismo em Moçambique e o conflito na República Democrática do Congo vão merecer de Angola uma atenção especial, porque são situações que só dificultam a agenda do desenvolvimento e crescimento da região”, asseverou.

Lema de Angola na SADC

Para o jovem Destino Ventura, Angola ao escolher o lema “Capital humano e financeiro” para a presidência da SADC reconhece a importância em aproveitar estes dois elementos vitais para a industrialização da região e também como factores impulsionadores do desenvolvimento.

Angola, continuou, ao priorizar o capital humano deverá direccionar investir mais na educação, ciência, formação e qualificação técnica para os jovens, visando melhorar a capacidade produtiva e a competitividade no mercado global.

“A referência ao capital financeiro evidencia a importância do investimento em infra-estruturas, inovação tecnológica como pilares fundamentais para a industrialização”, destacou.

Segundo Destino Ventura, a presidência angolana na SADC terá a missão de fortalecer os países membros e buscar soluções compartilhadas para os desafios como o comércio regional e o desenvolvimento sócio-económico dos povos.

 

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