RICARDO ABREU ACUSADO DE SAQUEAR DO BPC PODE SUBSTITUIR JOSÉ DE LIMA MASSANO NO BNA
Ricardo Daniel S. Q V. de Abreu, ministro dos Transportes e ex-presidente do Conselho de Administração do BPC, onde foi acusado de gestão danosa, é um dos putativos substitutos de José de Lima Massano, no cargo de governador do Banco Nacional de Angola.
O cargo de governador do BNA está vago desde hoje, 8, quando, nos termos da alínea d) do artigo 119º e do n.º 4 do artigo 125º, ambos da Constituição da República de Angola, o Presidente da República demitiu José de Lima Massano da função para a qual ele próprio o nomeou a de Dezembro de 2022.
No seu decreto, o Presidente da República sustentou que a exoneração de José de Lima Massano decorreu a seu pedido. No mesmo dia e decreto, João Lourenço nomeou José de Lima Massano para o cargo de ministro de Estado para a Coordenação Económica do Presidente da República.
O Presidente da República deixa à especulação popular as razões que determinaram o afastamento de Manuel José Nunes Júnior. do cargo de Ministro de Estado para a Coordenação Económica. Na ausência de explicação popular, a “vox populi” associa a exoneração de Manuel Júnior à desordem social que se seguiu ao aumento dos preços dos combustíveis.
Em duas províncias, Huambo e Huíla, pelo menos quatro cidadãos já teriam morrido em consequência de reencontros com forças policiais. Muito cobiçado, o cargo de governador do Banco Nacional de Angola pode cair no “colo” de Ricardo Daniel Sandão Queirós Viegas de Abreu.
Também conhecido por Cacauzinho ou, mais popularmente por Manhã de Domingo, por ser autor de uma música com esse título, Ricardo de Abreu já ocupou diferentes funções nos governos de João Lourenço. Nomeado ministro dos Transportes em 2018 e reconduzido em 2022, Manhã de Domingo foi antes secretário do Presidente da República para os Assuntos Económicos, cargo que exerceu entre 2017 a 2018.
Antes de servir como secretário do Presidente para os Assuntos Económicos, Ricardo de Abreu presidiu, primeiro, o Conselho de Administração e, depois, a Comissão Executiva do Banco de Poupança e Crédito, S.A. Segundo se especula no próprio banco, foi na qualidade de presidente da Comissão Executiva do BPC que Ricardo de Abreu reduziu a “cinza” uma respeitável dívida que João Lourenço tinha contraído junto do principal banco público.
“Neste momento o BPC não tem nenhum registo de qualquer dívida do cidadão João Lourenço. Foi tudo apagado”, contou a um jornalista uma fonte do BPC, pouco depois que Ricardo de Abreu foi transferido para a secretária dos Assuntos Económicos do Presidente da República. Filhinho de papai – o progenitor, Viegas de Abreu, Cacau, é amigo chegado do Presidente da República, Manhã de Domingo exerceu, sempre, funções privilegiadas no aparelho de Estado.
Entre 2016 e 17 foi consultor especial – logo, acima dos outros – do ministro das Finanças. No ano em que cessou funções no Ministério das Finanças foi nomeado presidente do Conselho de Administração da Recredit, Sociedade Gestora de Activos, um sorvedouro de dinheiro público criado com o inglório propósito de recuperar o crédito malparado do Banco de Poupança e Crédito. Ao mesmo tempo que presidia ao BPC, Ricardo de Abreu exercia a função de vice-presidente da Assembleia Geral da BODIVA – Bolsa de Dívida e Valores de Angola.
Reconduzido como ministro dos Transportes em Dezembro de 2022, Ricardo de Abreu já prometeu inúmeras vezes as conclusões das obras e consequente inauguração do novo aeroporto internacional de Luanda.
Em Março deste ano, quando visitou as obras pela última vez, o Presidente da República saiu de lá com a convicção de que a megalómana estrutura, inaugurada por José Eduardo dos Santos há mais de 15 anos, será finalmente concluída em Dezembro. Especialistas angolanos e estrangeiros têm insistentemente alertado as autoridades que as autoridades aeronáuticas internacionais dificilmente aprovarão o novo aeroporto internacional de Luanda por ter sido construído numa região com condições atmosféricas geralmente hostis à aviação civil.
Sugerem obras para a sua adaptação para aeroporto militar. Porém, mal tomou conta do dossier, o ministro dos Transportes convenceu o Presidente da República, “Mr. l’état c’est moi”, que a injecção de mais algumas centenas de milhões de dólares fariam do NAIL um dos se não o melhor aeroporto de África. Em Junho de 2021 e numa sumptuosa cerimónia realizada na nova Biblioteca de Luanda, o ministro dos Transportes apresentou o projecto do que seria o futuro Metro de Superfície de Luanda.
Com custos totais de 3.000 milhões de dólares, as obras do empreendimento, cuja necessidade é inquestionável, deveriam ter inicio em 2022. Segundo o ministro, o Metro de Luanda seria financiado pela empresa alemã Siemens. Decorridos mais de dois anos, não se sabe em quê parte de Luanda foi dado o pontapé de saída da grandiosa obra.
Como ministro dos Transportes, Ricardo de Abreu recebeu também do “Mr. l’état c’est moi” carta branca para a reestruturação da TAAG. Todos os frequentadores dos aviões da TAAG e de outros serviços prestados pela empresa concordam que a companhia aérea angolana estava incomparavelmente melhor antes de Ricardo de Abreu confiar a sua gestão ao espanhol Eduardo Fairen Soria. Recolocar a TAAG nos patamares em que já esteve vai requerer muitos biliões.
Ricardo de Abreu já tem aval do Presidente da República para comprar mais aviões para a companhia, numa altura em que aeronaves com muito poucos anos de uso jazem em hangares ou debaixo de sol por falta de manutenção. Nos seus círculos privados, Manhã de Domingo não tem escondido o seu desejo de regressar ao Banco Nacional pela porta principal.
Já lá esteve entre 2009 a 2015 como vice-governador. Também já teve passagens pelo BAI e BNI. Muito querido no palácio presidencial, só uma tragédia impedirá a concretização do desejo do Manhã de Domingo.