DESPEDIMENTO DE TRABALHADORES DO PORTO SECO DA MULEMBA ASSOCIADO COM A LAVAGEM DE DINHEIRO

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O despedimento colectivo de 536 trabalhadores do Porto Seco da Mulemba, realizado pela empresa HRD-Desenvolvimento de Recursos Humanos, Lda., trouxe à tona acusações graves que vão além das questões laborais.

Os ex-trabalhadores apontam para a existência de um esquema de lavagem de dinheiro, supostamente facilitado pelo Porto de Luanda, com a HRD como intermediária. Segundo os trabalhadores, a HRD foi utilizada como um instrumento para mascarar operações financeiras irregulares.

Esta acusação ganhou força com a alegação de que a empresa foi responsável por processar os salários e subsídios de forma opaca, permitindo que gestores do

Porto de Luanda se isentassem de responsabilidade direta.

Um dos exemplos citados foi a manutenção de subsídios de risco durante a pandemia de COVID-19, mesmo após a transição para a gestão do terminal pela DP World.

Os trabalhadores afirmam que tais pagamentos, embora aparentemente legais,

serviram para camuflar fluxos financeiros que não beneficiavam verdadeiramente os trabalhadores, mas que reforçavam esquemas ilícitos dentro da estrutura administrativa.

Relatos indicam que os salários e benefícios dos trabalhadores eram pagos pela HRD, mas que o verdadeiro controlo financeiro permanecia nas mãos do Porto de Luanda.

Esta separação, alegadamente intencional, teria permitido que o Porto de Luanda evitasse implicações directas em eventuais irregularidades, usando a HRD como uma “fachada operacional”.

Os trabalhadores afirmam ainda que este esquema foi protegido por altos responsáveis do Porto de Luanda e até mesmo por gestores do Ministério dos Transportes.

Segundo documentos e depoimentos fornecidos ao jornal, a permanência da HRD na gestão de pessoal, mesmo

após os decretos presidenciais que exigiam a transferência dos trabalhadores para a entidade titular, foi deliberadamente permitida para manter este sistema de movimentações financeiras pouco transparentes.

Outro ponto levantado foia suposta existência de um seguro de saúde avaliado em 45 milhões de kwanzas, que deveria cobrir despesas médicas e outros benefícios para os trabalhadores.

No entanto, os trabalhadores não tiveram acesso pleno a estes recursos, o que levantou suspeitas de que os valores associados ao seguro também possam ter sido desviados.

A situação agravou-se com a entrada em cena da Inspecção Geral da Administração do Estado (IGAE), que iniciou uma investigação e solicitou extratos bancários dos trabalhadores referentes ao período de 2020.

Segundo as fontes, esta investigação confirma que havia má-fé e passíveis irregularidades financeiras por parte da administração do Porto de Luanda, em conluio coma HRD.

Os trabalhadores também denunciam que a decisão do despedimento colectivo foi

conduzida de forma arbitrária, sem notificações formais e sem o direito ao contraditório.

Para eles, isso demonstra um esforço para encerrar rapidamente qualquer ligação formal entre o Porto de Luanda e os funcionários, evitando que as acusações de lavagem de dinheiro ganhem mais visibilidade.

Este caso levanta questões alarmantes sobre a transparência na gestão de activos públicos em Angola e reforça as preocupações sobre a proteção dos direitos laborais.

Para os ex-trabalhadores do Porto Seco da Mulemba, as acusações de lavagem de dinheiro representam um dos principais pontos que exigem investigação aprofundada, visando identificar os responsáveis e assegurar justiça.

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