MARCOLINO MOCO ACUSA JOÃO LOURENÇO DE FORÇAR MILITANTES DO MPLA PARA CANDIDATURA ÚNICA POR SUA INDICAÇÃO

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O antigo primeiro-ministro angolano, militante veterano do MPLA, Marcolino Moco, esteve em entrevista à Rádio Eclesia de Luanda, onde abordou inúmeras questões “sensíveis” sobre o país, tendo criticado o seu próprio partido e João Lourenço, quando questionado, primeiramente, “como analisava o silêncio do presidente do MPLA perante actos que ele próprio criticou e condenou” no passado, por exemplo, se opor à bajulação e combater ordens superiores.
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Em declarações, Moco disse que, na verdade, o presidente João Lourenço “nos atraiu” e traiu depois com aquele discurso de 2017 e um pouco antes de combater o culto à personalidade, de combater a bajulação, de combater ordens superiores e hoje ele faz tudo num nível nunca atingido, mesmo no tempo do presidente José Eduardo dos Santos ou até mesmo de Augustinho Neto.
O também antigo SG do MPLA, acha que João Lourenço está inserido no quadro de uma organização que não consegue adaptar-se aos novos tempos. Analisando isso, no âmbito até dos partidos que sempre comungaram com o MPLA, mesmo a ideologia, todos os partidos evoluíram.
“Não falo já do PAICV, do Cabo Verde, estou-me a referir especialmente ao mundo lusófono. Não falarei do PAIGC, da Guiné-Bissau, até da FRELIMO, que costuma se chamar o irmão gêmeo do MPLA à evolução. Não se fez, por exemplo, esse sururu levantado porque o presidente, hoje, 6 de setembro de 2024, ainda quer forçar a existência de candidatura única da sua preferência, alegando subtilmente que quer promover a juventude ou um jovem. Esquecendo-se, primariamente, que esta coisa de pensar que alguém que nós vamos indicar vai nos defender está desmentido há muito tempo”, apelou.
Fez também lembrar o caso do Frederick Chiluba, na Zâmbia, os diversos casos que se conhece, que dificilmente as pessoas indicadas pelos líderes actuais vão necessariamente seguir aquilo que o líder cessante pretende. “O próprio caso de João Lourenço em relação a José Eduardo dos Santos está aí patente”. Para Moco isso não tem relevância, pois, o que é relevante é passar a seguinte mensagem: Essa ideia demagógica de que os jovens são melhores que os mais velhos é uma autêntica mentira. “É verdade que os jovens devem assumir, naturalmente, o lugar dos mais velhos. Isso é a lei da vida. Por isso, se no MPLA, por exemplo, não houvesse esta fechadura, se calhar nem o próprio João Lourenço hoje seria o presidente da República. Teria havido uma renovação natural”.
Agora, observa, essas renovações forçadas, pretender que é preciso sermos substituídos por jovens à força, sem analisar as suas qualidades, a sua capacidade de adaptação aos novos tempos. “Colocar mulheres desconhecidas. Não gostava de ferir suscetibilidades.”
“Por exemplo, o caso da vice-presidente. Esta forma surpreendente como muitas mulheres do MPLA foram, com experiência testada, foram postas de lado. Qual é a mais-valia que está a ganhar disso?”, questionou Marcolino Moco.
Este uso da juventude, dos chamados jovens turcos, da forma mais demagógica que é, segundo Moco, não resolve o problema. “Então, concluindo, é que o que se passa hoje, o silêncio do presidente, é que não é o silêncio só. É a própria promoção e o despesismo, porque essas manifestações são pagas, há fome e graça e, se calhar, é por isso que o nosso orçamento é tão mal composto que é para se contemplar esse tipo de despesas com manifestações do tipo atávico, o mesmo tipo de manifestações como a salientar que se fez, por exemplo, contra mim em 19960”, atirou.
“Então, é muito triste e significa, como eu tenho sublinhado, que eu não sei se é propriamente o MPLA, se o MPLA também não é um prisioneiro. Significa que aqueles que mandam nesse sistema têm que se convencer que não ganham nada com isso. Muitos deles também já estão velhos, como eu”. Apela por outra que os dias estão a passar, estão a deixar problemas graves para as futuras gerações. Os seus próprios filhos, os seus netos estão a perigar realmente o futuro da Angola. “Sei que pouco falta para nos resgatarmos, mas nunca é tarde.”
Na outra questão, Marcolino Moco foi solicitado a comentar sobre, se o Partido não admite que está a passar por uma crise, na qualidade histórica, militante, o actual ambiente do MPLA é ou não uma crise?
Então, disse que, enquanto o MPLA for levado pelo sistema, a pensar que é uma organização que apareceu em Angola para estar sempre no poder, independentemente dos resultados da sua governação, portanto é inamovível, nós temos que considerar que o MPLA estará sempre em crise. “Eu não gosto muito de voltar atrás, falando das questões que tiveram lugar no tempo do Partido Único, ou mesmo antes, em 1974, 1975, os combates entre os chamados três movimentos de libertação nacional, o fraccionismo, ou aquela questão da peça e do quadro, que muitas pessoas desconhecem, que é para não dispersar o pensamento”.
“Mas há o meu caso próprio, que tive que suspender a minha militância ativa dentro do MPLA, porque tudo o que eu pensava lá dentro era considerado revisionismo, mesmo depois do fim da ideologia marxista. Depois também passei por um período, como agora passa o general Dino Matrosse e outros, até aqueles que não disseram nada ainda, e têm todo o direito de se apresentar como candidato, como o general Nandó, o general Higino, começam a ser taxados também de traidores, fraccionistas, e por aí fora. Espero que alguns insultos e calúnias, ou mesmo questões referidas como corrupção, que foram uma generalidade no país, em que devia haver uma reconciliação, a colocação de uma pedra no passado para começar tudo de novo, quando tivermos tribunais independentes, quando tivermos uma comunicação não atrelada ao sistema. Portanto, entramos num novo dia, aí sim vamos poder chamar nomes àqueles que se desviarem, implantados os novos princípios.”
Então, ressaltou, a actual direcção, que não será toda ela, porque as pessoas estão a ser silenciadas pelo medo, pelas despromoções, na tentativa de salvaguarda de lugares, as pessoas estão a ficar silenciadas, mas há uma crise, naturalmente, está à vista de todos. Se isso não é crise, então não sei que nome é que tem.
“Mas, enfim, é tudo muito lamentável e é preciso coragem, é preciso que se chame as coisas pelos seus nomes, mas dentro, naturalmente, do espírito de reconciliação. Porque aquilo que se passa no MPLA, o MPLA que atrelou a si todo o destino do país, com este bloqueio a qualquer tipo de alternância, vai contaminar a sua crise, a sua crise eterna, que existe permanentemente, ao país que já não tem mais para onde se afundar”, apelou.

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