O general na reserva, antigo dirigente da UNITA e co-fundador com o general João de Matos (MPLA) das Forças Armadas de Angola, Abílio Kamalata Numa, ficou sujeito a termo de identidade e residência e apresentações periódicas num processo em que é acusado do crime de ultraje ao Estado.

PORTAL O LADRÃO

Na Procuradoria-Geral da República, local onde foi montado um forte aparato policial, talvez por o regime do MPLA continuar a ver na UNITA um inimigo, Abílio Kamalata Numa foi ouvido por alegados crimes de ultraje ao Estado, seus órgãos e símbolos, eventualmente incluindo nos ultrajados o maior genocida da história de Angola, e único herói nacional permitido pelo MPLA (partido no Poder há 49 anos), Agostinho Neto, responsável pela morte de 80 mil angolanos nos massacres de 27 de Maio de 1977.

À saída do edifício, Kamalata Numa disse aos jornalistas que a queixa foi feita pela Procuradoria Militar, devido a uma publicação em que levantou suspeitas sobre a morte do antigo Chefe de Estado Maior General Adjunto para a Areal Operacional de Desenvolvimento das Foças Armadas Angolanas, general Abreu Kamorteiro, que morreu oficialmente de doença, a 27 de Novembro de 2022 e que foi, recorde-se, subscritor do Acordo de Paz, ao lado do general (do MPLA) Armando Cruz Neto.

“Fui incisivo ao dizer que havia possivelmente mão humana, mas não me revi na extracção que eles fizeram do Facebook, vou ver a publicação que eu fiz e depois disso juntar aos autos e voltar aqui à DNIAP [Direcção Nacional de Investigação e Acção Penal]”, disse Abílio Kamalata Numa.

Por ser general na reforma, o processo está a ser conduzido pela Procuradoria-Geral da República, onde responde no foro especial de que goza.

Segundo o general na reserva e ex-candidato à liderança da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), maior partido da oposição que a muito custo o MPLA ainda permite, os autos referem que terá dito que o general Kamorteiro morreu envenenado, numa altura em que estava para ser nomeado Chefe de Estado-Maior das Forças Armadas Angolanas.

Abreu Muengo Ukwachitembo “Kamorteiro”, que era à data da morte Chefe do Estado Maior General Adjunto para Área Operacional de Desenvolvimento das Forças Armadas Angolanas, foi co-signatário dos acordos de paz para Angola, rubricados a 4 de Abril de 2002, pela UNITA, ao lado do general Armando da Cruz Neto, então chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas Angolanas (FAA).

Para Abílio Kamalata Numa, “isto é mais política do que outra coisa”, reiterando que “a qualidade da democracia tem de melhorar em Angola, porque apanha-se o pequeno ladrão da galinha e deixa-se o verdadeiro ladrão”. Questionado se considera que o processo tem condições para prosseguir, respondeu que “do MPLA pode-se esperar tudo”.

O general realçou que o Estado democrático de direito de Angola causa-lhe “estranheza”, por não ser “como o de outros países, onde a democracia está consolidada”.

“Aqui parece que há algumas coisas que não se podem dizer, mas vamos melhorar. É preciso ter coragem para irmos melhorando a qualidade da democracia no nosso país”, referiu.

Abílio Kamalata Numa adiantou que o seu advogado tem duas semanas para trabalhar no processo depois deste primeiro interrogatório.

O advogado de Abílio Kamalata Numa, Manuel Kamuari, referiu que o seu constituinte foi colocado sob termo de identidade e residência, com a obrigação de apresentação periódica às autoridades.

Manuel Kamuari referiu que se trata de uma medida de coacção pessoal branda, salientando que o seu constituinte tem o dever de se apresentar uma vez por mês às autoridades.

NUMA – UM GENERAL SEM MEDO

Oano passado, Abílio Kamalata Numa disse que “vende-pátria” são aqueles que roubam as riquezas do país. Nós acrescentamos que são também aqueles que dirigem Angola há 49 anos e que, para além de seguindo as regras do assassino Agostinho Neto não “perdem tempo com julgamentos”, são responsáveis – entre outras razões – pela existência de 20 milhões de pobres. Ou seja, o MPLA. Ou seja, desde 2017, o general João Lourenço.

Abílio Kamalata Numa disse que “quem criou este ambiente é que é vende-pátria e não os outros, são eles que tiraram os dinheiros públicos, venderam o petróleo e colocaram dinheiro nas capitas europeias, há muito dinheiro que está em Portugal, não sei onde anda o Manuel Vicente, a Isabel também está la, os Higinos, todos eles, muitos deles foram casar as suas filhas com pompa e circunstância”, esclarecendo não conhecer qualquer político da oposição em Angola que desencoraje o investimento estrangeiro no país.

“O nosso Presidente está a fazer a sua diplomacia, mas nunca vi e também não é política da UNITA defender o não investimento. Angola não tem ambiente para negócios, o indivíduo que quer fazer negócios com Angola vem para aqui encontrar uma burocracia recheada de corruptos”, acrescentou Numa.

Ou seja, sendo a mentira/cobardia uma das principais armas do MPLA, recorde-se que o general João Lourenço, Presidente da República (não eleito), ladeado pelo Presidente do MPLA e pelo Titular do Poder Executivo, disse, em Luanda, haver falta de patriotismo nos políticos angolanos que procuram influenciar negativamente as instituições financeiras internacionais, credores e investidores interessados por Angola.

Ou seja, recorde-se, dizer a verdade é – para o Governo – crime. Solidários com o Presidente, nós aqui no Folha 8 só vamos dizer, por exemplo, que Angola tem 20 milhões de pobres… sempre que entendermos que o devemos dizer.

Segundo o general Presidente, que falava numa reunião de divulgação de ordens superiores junto dos autómatos do seu órgão chamado Conselho Económico e Social, o compromisso com o povo angolano (onde não inclui os tais 20 milhões de pobres) é sério e inquebrantável e, por isso, se vai continuar a trabalhar para colocar a Angola do MPLA num outro patamar cada vez mais alto.

“Mas, infelizmente enquanto trabalhamos para o desenvolvimento económico e social do país, alguns políticos da nossa praça que nunca quiseram o bem de Angola e dos angolanos, vêm realizando trabalho contrário junto das instituições financeiras internacionais, dos credores e investidores a desencorajar o investimento em Angola”, afirmou o general João Lourenço, certamente inspirado no seu herói nacional (Agostinho Neto) que, para defender Angola e os angolanos, determinou que “não iria perder tempo com julgamentos” e mandou assassinar cerca de 80 mil… angolanos nos massacres de 27 de Maio de 1977.

Para o Chefe de Estado, esta acção (dizer a verdade) espelha bem a falta de patriotismo, de sabotagem contra os interesses de seu próprio reino, está condenada ao fracasso, porque felizmente os financiadores, credores e investidores guiam-se por critérios objectivos de análise dos mercados e conhecem a seriedade no que diz respeito a honrar os compromissos para com os credores. Os investidores riem-se e, de facto, acham que assim está bem. É mais fácil negociar com ditadores do que com democratas. Por alguma razão o MPLA é o partido que, a nível mundial, mais corruptos tem por metro quadrado.

O general João Lourenço (não nominalmente eleito) lembrou que para além de importantes recursos minerais, terras aráveis, rios de águas permanentes, regime de chuvas regular, bom clima, florestas, savana e deserto ricos em biodiversidade, Angola tem um povo hospitaleiro, cultura rica e boa culinária. E, lembramos nós, 20 milhões de pobres.

Na sua intervenção, o general disse ainda contar com o saber, experiência e contribuições (obviamente figurativa) dos membros do Conselho Económico e Social para se ter uma economia mais robusta e resiliente, que resista melhor aos choques externos.

João Lourenço enfatizou que o governo vive (para além do que rouba ao Povo) dos impostos cobrados às empresas e aos cidadãos para poderem realizar os projectos do Orçamento Geral do Estado, para construir todo o tipo de infra-estruturas públicas como as estradas, pontes, portos e aeroportos, centrais de produção de energia e água, estabelecimentos de ensino, hospitalares, pagar salários e pensões de reforma, garantir o normal funcionamento da função pública e dos órgãos de soberania, entre outras acções.

Recorde-se, entretanto, que Marcy Lopes, auxiliar (sipaio) de João Lourenço com o título, na altura, de ministro da Administração do Território, transmitiu ordens superiores do Presidente aos angolanos de primeira residentes em Portugal para não mostrarem “o lado mau” do país sob pena de afugentarem os investidores estrangeiros.

Para o ministro, não se deve mostrar ao mundo que Angola vive problemas de desemprego, que tem 20 milhões de pobres, que vê morrer muita gente (sobretudo crianças) com fome e com malária.

“Nós não podemos mostrar o lado mau ou mostrar ao mundo que o nosso País tem problemas ou que há desemprego. Temos é que mostrar apenas o lado bom porque precisamos de investidores. Precisamos é de divulgar o país com aquilo que é bom. O que é mau guardamos para nós”, disse Marcy Lopes, durante o encontro (Outubro de 2021) com os angolanas (do MPLA) residentes em Lisboa, onde esclareceu questões ligadas ao registo eleitoral no exterior.

Segundo o ministro, os angolanos “devem todos adoptar uma postura de divulgar o país para que os empresários estrangeiros invistam”. Mintam, aconselha o ministro Marcy Lopes. Ou seja, façam como o MPLA.

“Se falarmos do desemprego, logo afugentamos os investidores do País. Necessitamos é de investimentos, porque quem dá emprego são os investidores privados e nunca o Estado”, afirmou o ministro. E acrescentou: “Temos de vender uma boa imagem e não podemos mostrar o lado mau das coisas em Angola”.

Marcy Lopes salientou durante o encontro em Lisboa que os angolanos insatisfeitos devem é reclamar junto das instituições por escrito e nunca verbalmente. Ou seja, os cidadãos não devem fazê-lo em voz alta, mas sim expor as suas indignações num livro de reclamações.

“Críticas mal feitas não resolvem os problemas, críticas feitas fora do tom em nada resolvem, devemos é fazer as críticas em tom certo”, afirmou o ministro.

Folha 8 com Lusa

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