ANGOLANOS ESTÃO MAIS POBRES E VIVEM MENOS
Apesar de ter mais pontos do que em 2022, Angola caiu dois lugares, o que significa que os outros países estão a fazer mais do que nós no que toca ao desenvolvimento humano. De recessão em recessão, a economia nacional não tem tido capacidade para criar emprego para fazer face ao forte crescimento populacional.
PORTAL O LADRÃO
A pontuação de Angola no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 2023, medido pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), voltou a crescer depois de três quedas consecutivas, mas ainda assim o País desceu dois lugares para a posição 150 em 193 nações. Os angolanos estão hoje mais pobres e vivem menos tempo do que há cinco anos, mas a esperança média de vida quebrou uma tendência de descida iniciada em 2020, subindo dos 61,6 anos em 2022 para os 61,9 em 2023.
A esperança de vida à nascença em 2019 era de 62,4 anos, passando para 62,3 anos em 2020 e 61,6 anos em 2021/2022, uma consequência da crise económica e financeira que tem afectado o País, que acabou por prejudicar este indicador que tinha sido dos grandes ganhos de Angola desde o final da guerra civil. A falta de resposta do País ao nível da saúde e educação, cujo peso no Orçamento Geral do Estado continua distante dos parâmetros internacionais, também não tem ajudado. Condições precárias de vida, a falta de acesso a uma alimentação adequada que resulta de salários baixos e de uma inflação sempre em alta, a falta de acesso a água limpa, a saneamento básico e a habitação segura também estão associadas a esta redução da esperança de vida. A isto junta-se a falta de acesso a cuidados de saúde preventivos, a diagnóstico e tratamento de doenças.
Ainda assim, a esperança média de vida dos angolanos no relatório do PNUD, divulgado na semana passada, voltou a crescer no ano passado para 61,9 anos face aos 61,6 anos de 2022. Este valor trata-se de uma média entre a esperança média de vida das mulheres (64,5 anos) e a dos homens (59,4 anos).
Longe vão os tempos em que o rendimento nacional bruto per capita angolano era superior ao da maioria dos países de médio desenvolvimento humano, grupo onde se insere Angola neste relatório do PNUD. Em 2010, o rendimento per capita duplicou face ao final da guerra civil para 6.912 USD e chegou aos 7.653 USD em 2015. De lá para cá, o rendimento per capita tem vindo a cair até aos actuais 5.328 USD (ver tabelas). Isto significa que ano após ano os angolanos têm vindo a ficar mais pobres. E as causas são várias, entre elas o facto de a população continuar a crescer muito acima (3,1% em média por ano) daquilo que é o crescimento económico. Quando a população cresce mais do que a economia, significa que o País não está a conseguir criar os postos de emprego necessários para empregar a população que ano após ano entra em idade activa para trabalhar.
O Índice de Desenvolvimento Humano avalia a qualidade de vida e o desenvolvimento económico da população, tendo como base três critérios: Saúde, Educação e Rendimento. O critério Saúde é medido de acordo com a expectativa de vida ao nascer. Já a educação mede o acesso ao conhecimento, com a média de anos de estudo (adultos) e os anos esperados de escolaridade (crianças). Quando à vertente económica é medida pelo Rendimento Nacional Bruto per capita. O IDH varia do 0 a 1, com o indicador 0 a corresponder a nenhum desenvolvimento humano e o indicador 1 a representar o máximo de desenvolvimento humano. Quanto mais próximo o país estiver do índice 1, mais desenvolvido ele é, e Angola é um “aluno mediano” neste contexto, já que tem hoje apenas 0,591 pontos, mais 0,005 pontos do que em 2021/2022.
Ajuda a explicar o contexto de pobreza em Angola o facto de o País ocupar o quarto lugar do ranking da taxa mais alta de natalidade na adolescência, já que por cada 1.000 nascimentos no país, 135,8 são de jovens mães entre os 15 e os 19 anos. As consequências são já conhecidas, estas mães acabam por abandonar a escola, num caminho que geralmente é sem retorno. Neste indicador, Angola só é superada pelo Niger (168,0), República Centro Africana (159,0) e pela Guiné Equatorial (136,4). Quanto à taxa de mortalidade materna, há um total de 39 países piores que Angola, que ainda assim assiste a 222 mortes de mães por cada 100.000 partos. Destaque para o Sudão do Sul, onde morrem 1.223 progenitoras por cada 100.000 partos, para o Chade (1.063) e para a Nigéria (1.047), que são os países onde há mais mortes de mães por parto. Entre os 193 países que constam no relatório, com uma taxa de incidência em 32,5% da sua população, Angola ocupa o 14.º lugar do ranking da taxa mais alta de pobreza multidimensional, que além de medir a falta de capacidade financeira das pessoas, tem em conta o seu acesso a alimentação, a educação, a cuidados de saúde ou a habitação. Expansão