CNE ACUSADA DE ENTRAR EM CENA NO PROCESSO DA IURD

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A Comissão Nacional Eleitoral (CNE), órgão encarregue de organizar e supervisionar o processo eleitoral, também terá deixado negativamente as suas impressões digitais no processo de apoio à IURD -brasileira, ao disponibilizar urnas eleitorais para a votação, durante a assembleia-geral Pungo a Ndongo, 19 de Janeiro de 2024

IRENEU MUJOCO

CNE entra em cena no processo da IURD O Pungo a Ndongo apurou que as urnas foram cedidas pela CNE à IURD-brasileira, em cumprimento de uma suposta ordem superior de uma alta figura do Comité Provincial do MPLA de Luanda, que também é crente desta congregação religiosa (ala brasileira).

Entretanto, várias vozes da sociedade civil e da classe política angolana estão a criticar a cedência das urnas para que fossem utilizadas num acto eleitoral religioso “conturbado”, sobretudo a utilização dos símbolos da CNE, como refere o observador eleitoral internacional, Luís Jimbo.

Em conversa com este jornal, Jumbo começou por explicar que, do ponto de vista legal, não existe nada que obsta que as urnas ou outro material eleitoral seja utilizado, desde que seja com o aval do presidente da CNE, mas o problema reside na utilização dos símbolos.

Na opinião de Jimbo, que também é o director do Observatório Eleitoral Angolano (ObEA), “o símbolo da Comissão Nacional Eleitoral estampado nas urnas eleitorais foi utilizado inapropriadamente e houve violação da lei”. Para ele, a igreja não pode utilizar o emblema da CNE, e nem a CNE ou de qualquer igreja.

“A CNE e a igreja violaram a lei. Os símbolos são utilizados somente pela própria entidade, ou naqueles casos em que há uma autorização do presidente desta instituição”, reforça, avançando que, antes de serem utilizadas, deviam ser retirados ou tapar os símbolos, para não se confundir que estivessem ao serviço da Comissão Nacional Eleitoral. Questionado sobre eventuais sanções sobre a violação da lei, respondeu tratar-se de uma “irregularidade administrativa, que pode dar em censura”.

O especialista e analista político da TPA insiste que a interpretação de muitos eleitores e de alguma franja da sociedade é a de que os símbolos dariam maior credibilidade ao processo, mas foi o inverso. Crise de liderança agudiza-se Portanto, a procissão ainda vai no adro no que concerne ao desfecho positivo da crise de liderança da Igreja Universal do Reino de Deus em Angola (IURD), e agravou-se com a realização unilateral e ilegal de uma assembleia-geral em que foi eleito o bispo Alberto Segunda, da ala brasileira, como novo líder da igreja.

“A CNE E A IGREJA VIOLA- RAM A LEI. OS SÍMBOLOS SÃO UTILIZADOS SOMENTE PELA PRÓPRIA ENTIDADE, OU NAQUELES CASOS EM QUE HÁ UMA AUTORIZAÇÃO DO PRESIDENTE DESTA INS- TITUIÇÃO”

 Com o apoio incondicional do Ministério da Cultura, do Ministério da Justiça e dos Direitos Humanos, de alguns membros do Comité Provincial do MPLA de Luanda, do líder do Conselho Nacional da Juventude( CNJ) e da Comissãol Provincial Eleitoral de Luanda( CPE), em contravenção ao processo de reconciliação interna, concretizou-se a fraude que vinha sendo arquitectado, segundo comentários de membros da IURD-Angola, nas plataformas digitais.

A ausência da ala angolana, liderada pelo bispo Valente Luís (Bezerra), nesta assembleia geral, segundo comentam os membros, demonstra a ilegalidade deste acto, aliás, é a concretização do plano falhado do ministro da Justiça e dos Direitos Humanos, Marcy Lopes, quando no dia 31 de Agosto do ano passado tentou atribuir à liderança da IURD-Angola a Alberto Segunda, sem a inclusão dos seguidores de Valente Luís, por intermédio de “Acordo de Conciliação”. Passados quatro meses, as instituições e entidades visadas que diziam não estar vinculadas na preferência do bispo Segunda para revitalizar a Igreja Universal do Reino de Deus em Angola, como foi noticiado inúmeras vezes por este jornal, a maior parte assistiu ao acto, o que demonstra a sua fidelidade canina à ala brasileira, cujos fins, de alguns, são conhecidos.

A direcção da IURD-Angola, que já condenou o acto, na semana passada, que considerou como ilegal, segundo uma nota de imprensa enviada à nossa Redacção e assinada pelo bispo Capinha Salvador Domingos, presidente de mesa da assembleia geral da IURD, diz que a igreja está a trabalhar para realizar uma ampla assembleia-geral em que participarão as duas alas, para se eleger o novo bispo.

Refere a mesma nota que a igreja continuará a trabalhar para a reunificação de todos os fiéis, e não somente pela integração dos seguidores do bispo Edir Macedo, fundador da IURD, representado em Angola por Alberto Segunda.

Interferência A participação de instituições de Estado (Ministério da Justiça e dos Direitos Humanos, Ministério da Cultura, e o Conselho Nacional da Juventude), em interferir na escolha do novo bispo, foi criticado por um especialista em matéria de religião.

 O sociólogo Pedro Bakoka entende que a interferência destas instituições macula a imagem do próprio Estado Angolano, sustentando que a Constituição da República de Angola (CRA) é laico quanto à religião, pelo que os departamento ministérios deviam colocar-se equidistante, na escolha do novo líder da IURD.

Para este sociólogo, as instituições referenciadas, ao apoiar escolher um novo líder da igreja, sem o consentimento da outra parte em conflito, exerceram um “ péssimo papel, porque a crise vai continuar”, alerta.

Justificou que as instituições deviam ajudar as duas partes, em conflito, para continuar com o processo de negociação até chegarem a um consenso, “ao invés de optarem pela exclusão do bispo Bezerra, que foi o primeiro a ser reconhecido pelo próprio Estado Angolano, através do INAR”, diz.

“Qual é a justificação do Ministério da Cultura de excluir a direcção do bispo Bezerra, que ele próprio reconheceu em 2021 quando lhe passou a certidão de Declaração de Idoneidade, que lhe conferia o estatuto de líder da IURD em Angola?”, questiona.

O especialista defende que o Ministério da Cultura e o da Justiça deviam trabalhar para aproximar as partes desavindas, através da retoma do processo do diálogo interno, estagnado por ‘quebra de confiança’ de alguns membros da ala brasileira.

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