“MPLA NÃO TEM VONTADE DE DIALOGAR SOBRE CABINDA” – RAÚL TATI
Deputados do MPLA propõem diálogo com movimentos independentistas na província de Cabinda, avança a imprensa angolana. Político da oposição Raúl Tati mostra-se surpreso, porque “camaradas” nunca mostraram essa abertura.
Deputados do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA, no poder) sugerem a criação de um “clima de diálogo e inclusão” com os movimentos independentistas em Cabinda, noticia o Novo Jornal.
É uma das propostas que constam num relatório de uma visita dos parlamentares à província, onde o MLPA elegeu apenas um deputado nas últimas eleições gerais, em agosto de 2022, contra quatro deputados do maior partido da oposição, a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA).
Segundo o Novo Jornal, os deputados do MPLA mostraram-se também insatisfeitos por haver apenas 30% de projectos destinados às comunidades e 70% para ex-militares.
“Os 25 milhões de kwanzas [cerca de 30 mil euros] alocados mensalmente para os ex-militares nos municípios é muito. O partido entende que deve ser revertido”, cita o semanário angolano, acrescentando que o relatório foi entregue esta semana à estrutura central do partido.
“SEM CONDIÇÕES” PARA O DIÁLOGO
Em declarações à DW África, Raúl Tati, primeiro-ministro do “Governo-sombra” da UNITA e antigo deputado pelo círculo de Cabinda, mostra-se surpreso com a proposta do MPLA. O político diz que o partido no poder nunca mostrou qualquer vontade política para um diálogo com os independentistas.
“As condições criam-se a qualquer momento, desde que haja vontade política. Mas temos visto que não há sequer um sinal”, atirou.
MOVIMENTAÇÕES NOS BASTIDORES
Raúl Tati diz que o que se sabe é de uma “movimentação de bastidores para a rendição das forças residuais de guerrilha”.
“Sabemos que há trabalho, inclusive de inteligência militar. Mas será este o diálogo que se pretende?”, questionou.
Há décadas que a Frente de Libertação do Estado de Cabinda (FLEC) luta pela independência do território, onde se extrai grande parte do petróleo angolano, o principal produto de exportação do país.
O Governo nega qualquer situação de instabilidade na província.
DERROTA DO MPLA EM CABINDA
Raúl Tati considera que esse distanciamento do Executivo em relação ao “diferendo” em Cabinda foi uma das principais razões para o “desaire eleitoral” do MPLA na província.
“Como é possível o Presidente [João Lourenço] ir a uma província onde há um conflito político-militar e nem sequer tocar no assunto? [No ano passado,] foi tentar buscar votos e isso foi um erro fatal”, afirmou o primeiro-ministro do “Governo-sombra” da UNITA em declarações à DW África.
Na campanha eleitoral passada, a UNITA propôs alterar a constituição e transformar a província de Cabinda em região autónoma. “E isso agradou muita gente”, referiu Raúl Tati. Segundo o político, é preciso “desmonopolizar” Cabinda e incluir mais vozes, além da FLEC e do MPLA, na busca de uma solução.