JOÃO LOURENÇO FICOU MAL NA FOTOGRAFIA – ARTUR QUEIROZ

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Bicefalia nunca! A liderança do partido tem de passar imediatamente para o Presidente da República. Lembram-se desta sentença proferida por notáveis do MPLA? José Eduardo dos Santos, eleito presidente em congresso, tinha mandato até ao congresso seguinte. Quando saiu da Presidência da República decidiu levar o mandato partidário até ao fim. Invocou várias razões para fazer esse sacrifício e uma delas foi ajudar a vencer as Eleições Autárquicas. Tratado como um obstáculo acabou por se retirar. Na época escrevi: “Uma onda de loucura irrefragável abateu-se sobre Angola. Acabam de prescindir do político mais experiente e que venceu todas as batalhas que travou”. Chamaram-me conservador e bajulador.

Hoje o Presidente da República adorava ter na presidência do MPLA um político com a dimensão de José Eduardo dos Santos. Assim dispensava aquelas centenas de dirigentes que fazem lá tanta falta como o luar num dia de sol. O Bureau Político de Agostinho Neto eram 12 magníficos. Estive a analisar a Lista dos membros actuais e poucos mais contei. O resto é paisagem.

O Presidente João Lourenço está a ver desmoronar-se o edifício da Justiça. É ele que nomeia os titulares dos Tribunais Superiores. O problema é de sua excelência. Precisava de quem o ajudasse a superar as dificuldades. Não tem. Na Educação o panorama não é melhor. O que se passa com os professores do ensino superior é uma espécie de suicídio político. Ou um tiro de monakaxito nos dois pés. Ignorar ou perseguir os quadros que serviram a causa pública com José Eduardo dos Santos é uma catástrofe. Até porque eles eram os melhores. Após 2017 os melhores são aqueles que passaram do mandato anterior.

O MPLA tem maioria absoluta na Assembleia Nacional. Os deputados são políticos por excelência ainda que tenham sido eleitos como legisladores. Passam-se meses sem vermos uma única intervenção política dos parlamentares do partido. E como eles têm trabalho para fazer.

A Comunicação Social está encravada nas telecomunicações e tecnologias de informação como se fosse filha de um deus menor. É a informação do MPLA que suprime as falhas e tremendas omissões. Está mal. Misturar tecnocracia com política é um erro. O resultado está à vista. A TPA gaba-se de que tem tecnologias de ponta mas como os jornalistas são fracos nem se nota a diferença para o tempo das primeiras emissões em 1976.

O Presidente da República tem uma Casa Militar. Sendo o comandante-em-chefe bem precisa. Mas a sua visita à província do Cuando Cubango (Região Militar Sul) foi um desastre a todos os níveis. João Lourenço perdeu uma oportunidade soberana de mostrar que é o chefe supremo das Forças Armadas. Mas entrou mal. As manobras militares foram ao nível de batalhão e ele falou de uma brigada. Os militares não gostam destas imprecisões.

O Presidente José Eduardo dos Santos foi visitar a brigada que se batia forte e feio contra os invasores sul-africanos na Cahama. Depois da reunião com o comando foi visitar os soldados um a um. Agradeceu-lhes os sacrifícios que estavam a fazer em defesa da Pátria. João Lourenço não foi dialogar com os soldados que participaram nas manobras. Mandou o seu ministro da Defesa fazer esse contacto. Um chefe supremo sem soldados não vale nada.

Os militares que estavam à sua espera não gostaram da ausência do comandante-em-chefe. Se alguém lhe disser o contrário está a mentir.

No Cuando Cubango fizeram um truque que já não se usa. Os militares receberam os salários no dia em que o comandante-em-chefe chegou ao local das manobras. Coisas destas são escusadas e mostram um nível político muito baixinho.

Os meus “assessores” militares garantem que na sociedade castrense os problemas são mais do que muitos. Um General das FAA disse-me que não tem capacidade financeira para jantar fora com a família. Há graves problemas de fundo que não chegam ao conhecimento do Presidente da República.

A insatisfação entre os Generais é notória. Oficiais superiores, capitães e subalternos ainda estão mais insatisfsitos. As condições da tropa dentro e fora dos quartéis são péssimas. Até este momento os salários ainda não foram pagos! Salários em atraso é uma constante que começa a cansar. O Presidente João Lourenço, naquela ocasião comandante-em-chefe, nem uma palavra de solidariedade. Nem uma promessa de que se vai bater por mudanças. Uma oportunidade perdida que não o beneficia. Não beneficia as FAA. Não beneficia o país.

Nestas circunstâncias ninguém tem dúvidas de que a Casa Militar do Presidente da República tem feito mais trabalho político do que a indispensável ligação às Forças Armadas. Quanto mais não seja para amortecer os problemas que vão surgindo no quotidiano.

O Ministério da Defesa está a dançar kizomba quando a música é semba. O Titular do Poder Executivo precisa de olhar para o sector com atenção e fazer as mudanças necessárias. No seu discurso, o Presidente João Lourenço foi muito claro: “As Forças Armadas jogam sempre um papel de destaque que nunca deve ser negligenciado”. Quando estava a falar, já tinham existido negligências graves. Uma delas foi não ter cumprimentado os soldados que participaram nas manobras.

Foi tudo mal? Não. Na reunião com as chefias militares, o Chefe do Estado-Maior General das FAA, General de Aviação Altino Carlos José dos Santos fez um “ponto da situação” empolgante e muto detalhado. Descreveu de maneira profunda, exaustiva e claríssima o panorama na sociedade castrense. Finalmente, alguém mostra que conhece por dentro aas forças amadas. Nos últimos quatro anos não foi assim. Por isso a degradação chegou ao ponto em que estamos.

O Presidente da República tem tudo a ganhar se incluir na sua agenda de trabalho uma reunião semanal com o Estado-Maior General das FAA para conhecer, em tempo real, os problemas, as dificuldades e também os êxitos dos órgãos castrenses.

Um bom conselho na hora certa faz a diferença. João Lourenço foi muito mal aconselhado e no polígono militar Soba Matias não conversou com os militares que participaram. Ficou muito mal na fotografia.

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